segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

"O apoio a estas crianças é uma necessidade a nível nacional"

Desde novembro que 27 crianças de Leiria participam no programa "Investir na capacidade". A partir do próximo ano as sessões vão estender-se aos pais

Como é que nasce este programa em Leiria para apoiar as crianças sobredotadas e respetivas famílias?
Os pais de um aluno procuraram-nos, porque estavam a sentir muitas dificuldades no acompanhamento do filho. Inclusive tinham recorrido à Associação Portuguesa de Crianças Sobredotadas, no Porto. Já existia lá um projeto semelhante a este, tal como em Nelas, com esta estrutura.

Já conhecia esses projetos?
Não, nunca tinha ouvido falar. Já tinha identificado esta necessidade na escola, enquanto docente. Percebi ao longo dos anos que estas crianças não têm qualquer acompanhamento. A escola está muito focada nas necessidades educativas especiais. São crianças desamparadas na resolução dos seus problemas e as famílias sofrem bastante, porque não têm orientação, por parte da escola ou de outros organismos. Quando me apareceram estes pais, e estando agora como vereadora e com capacidade de resolver problemas, falei com a associação. A professora Helena Serra ajudou-nos muito. Contactei com todos os diretores para podermos fazer formação a todos os professores do primeiro ciclo, sendo que, nos que aceitassem entrar no programa, todos os docentes do primeiro ciclo tinham de fazer formação.

Quantos aderiram, então?
Quatro agrupamentos aderiram, outros quatro não. Numa primeira sessão apostou-se na motivação dos professores. Depois marcámos outra sessão para o diagnóstico dos alunos. A professora Helena Serra trouxe o instrumento de avaliação. Foi aí que sinalizámos 45 com capacidades acima da média. Não usamos o rótulo, que pode ser extremamente negativo no seu percurso.

Ficou surpreendida com os resultados?
Fiquei. Oito a 10% têm capacidade acima da média, no concelho de Leiria.

E como é organizaram o programa "investir na capacidade"?
No início deste ano letivo fizemos uma campanha de sensibilização aos pais. Inicialmente estava para ser desenvolvido com professores do ensino básico - mais tarde estabelecemos uma parceria com a ESECS (Escola Superior de Educação e Ciências Sociais) de Leiria. Tivemos dificuldade porque o sábado não é um dia fácil e este é um trabalho voluntário. Explicámos aos pais que era importante a assiduidade. E tem havido, até porque os miúdos adoram. Porque os motiva e entra em áreas que eles não trabalham no dia a dia. Fizemos um diagnóstico para perceber quais são as áreas de interesse de cada um. É muito trabalhada a interação social, observação dos comportamentos, perfil do aluno.

Parece-lhe um passo importante ao nível do primeiro ciclo?
Penso que é uma necessidade a nível nacional. Todos os esforços estão concentrados nas crianças com necessidades especiais, e estas estão no outro extremo. Precisam de ser trabalhadas ao nível da motivação. Ainda no outro dia conhecemos o caso de um aluno que gosta imenso de Estudo do Meio. No momento em que a docente estava a trabalhar as matérias, ele perturbava, não deixava a professora falar. É necessário arranjar estratégias na sala de aula - e este também é o objetivo programa. Se este trabalho for feito durante a semana na sala de aula, não precisamos do sábado... Isto exige formação e envolvimento, mas julgo que o Ministério da Educação se está a preparar para dar outra resposta. Nestes sábados nota-se o entusiasmo deles; sentem que podem colaborar. E sentem-se integrados. E isso é o que falta na escola, muitas vezes, a capacidade de integrar estes alunos numa turma. A escola tem muitas outras dificuldades para dar resposta e há sempre a tendência de pensar que estes conseguem sozinhos. Isso não é verdade. A família é que vai em casa procurar dar resposta a esses problemas. Por isso o nosso próximo passo é a formação de pais.

Fonte: DN

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