quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

“A matemática não quer nada comigo”

Joana é uma menina com 11 anos que frequenta o 6.º ano de escolaridade. Ao falar do seu percurso escolar, desabafa que desde que se lembra a matemática “não é sua amiga”.

Joana sempre teve dificuldade em ler números, compreender, escolher estratégias e responder a um problema oral ou escrito. Para realizar cálculos básicos, a fórmula mais eficaz é a contagem dos dedos. Além disso, tem dificuldade em saber tabuadas, interpretar gráficos e tabelas, ver as horas nos ponteiros do relógio e também em lidar com o dinheiro: “Quando a minha mãe pergunta se conferi o troco, já sei que vai haver discussão...”

“As aulas de matemática são uma tortura. Não percebo a maioria das coisas que a professora explica”, confessa Joana, que manifesta sinais de ansiedade e falta de confiança mesmo quando a resposta está correcta. “Estudo para os testes e esqueço-me logo de tudo”.

Porém, nunca revelou dificuldades na aprendizagem da leitura e da escrita. E descreve-se como “boa aluna” nas disciplinas onde não tem de “lidar com números”, relatos que são confirmados pela mãe que a acompanha na entrevista. Após uma avaliação especializada concluiu-se que as dificuldades da Joana na aprendizagem da matemática se devem a uma Discalculia. “Ah! Então não sou burra!”, desabafou.

O que é a discalculia?

A discalculia apresenta-se como uma disfunção ou imaturidade neurológica que se reflete numa dificuldade do sulco intraparietal – região do cérebro envolvido no processamento da magnitude numérica – em ser ativado de modo semelhante ao que se observa em crianças sem discalculia.

As pessoas com discalculia podem revelar dificuldades em contar, estimar, fazer comparações entre quantidades ou em realizar operações básicas e cálculos simples. Os estudos mais recentes estimam que a incidência da discalculia na população escolar varia entre 5% a 9%.

Apesar de uma grande percentagem de alunos evidenciar “apenas” discalculia, esta pode ocorrer simultaneamente com outros tipos de Dificuldade de Aprendizagem Específica (dislexia e disortografia) ou com Perturbação de Défice de Atenção e Hiperatividade.

“Praticar para consolidar”: uma intervenção eficaz

Promover estratégias de aprendizagem para alunos com discalculia depende, em primeiro lugar, do tipo de dificuldade que o aluno está a experimentar. Em geral, a intervenção junto de um aluno com discalculia deve dar atenção às competências básicas, uma instrução explícita e muitas oportunidades de “praticar para consolidar”. O planeamento da intervenção deve garantir que os alunos consolidem os conceitos básicos antes de avançarem para competências mais complexas. Por outro lado, incentivar e promover competências de organização, planeamento e resolução de problemas tem um impacto muito positivo na criança com discalculia e na sua evolução.

Por Susana Mateus

Técnica Superior de Educação Especial e Reabilitação do CADIn

Fonte: Público

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