sexta-feira, 25 de setembro de 2015

QUEM MANDA NA SALA DE AULA?

Pais que querem interferir na forma como as notas são dadas, como a sala de aula é gerida ou como a matéria é dada. Professores com menor autoridade, com mais alunos por turma e com níveis elevados de stress diário. O resultado? A escola transformada no campo de batalha da culpabilização, onde se trocam acusações e ameaças. A solução? Ver a educação como um trabalho de equipa. E compreender que o elemento mais importante desta equação – o aluno – está entalado entre os dois lados da barricada.

A professora Anabela Silva sente que passa cada vez mais tempo na escola, enterrada em chatices e burocracias, mas foi fora da sala de aula que ouviu uma conversa que a deixou de rastos. Na fila de uma caixa de supermercado, uma jovem fazia queixas à mãe sobre uma professora que lhe tinha atribuído uma avaliação negativa. «Ela não deu a matéria e pô-la no teste», indignava-se a menina. A mãe, reagindo de imediato e não vendo razões para questionar a filha, respondeu bruscamente, como uma fêmea que protege a cria. «Se essa vaca voltar a fazer o mesmo, eu vou lá e f***-** as trombas», assegurou-lhe com violência, triunfante na exibição do seu instinto maternal.

Esta docente de 51 anos, professora de Biologia e de Ciências numa escola de Vila Nova de Gaia, conhece bem o clima de guerra vivido entre pais e professores dentro dos portões da escola e não ficou particularmente surpreendida com a declaração de intenções da mãe. Anabela Silva diz que nos últimos anos existe uma exigência acrescida por parte dos pais em tudo o que diz respeito à educação dos filhos. E não está sozinha. Muitos professores queixam-se de pais e encarregados de educação que fazem pressão para que uma nota seja alterada, para que o apontamento de uma falta seja eliminado da caderneta, para que uma matéria não seja dada de uma determinada maneira, para que as perguntas de um certo teste sejam reveladas antes do tempo. Como se, de alguma forma, quisessem assumir o comando da sala de aula. E que, em certa medida, a escola está transformada numa selva, Anabela Silva também já sabia. Mas aquilo que realmente a chocou na cena do supermercado foi perceber que a agressividade dos pais não termina dentro da escola, onde pode ser travada por professores e auxiliares e membros da direção.

A naturalidade daquela demonstração de desrespeito e de falta de consideração é sintoma de uma alteração maior e de fundo na sociedade, como explica o psicólogo José Morgado, professor no departamento de Psicologia da Educação no Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA). «Houve uma mudança na perceção das figuras de autoridade. Na minha geração, o professor era uma delas (tal como o polícia) – bastava que entrasse na sala de aula para que sentíssemos respeito –, e perdeu-a. Agora a função não é por si só reguladora. Isto é um problema novo. Como vai o professor exercer a sua autoridade? Não será certamente por decreto, como diz o Ministério da Educação», considera o psicólogo.

Os professores não são os únicos a ver a sua autoridade diminuída e é precisamente aqui que a situação se complica. Como explica José Morgado, houve uma erosão equivalente da autoridade associada aos progenitores, que têm menos tempo para educar os filhos, fruto das exigências da vida moderna e dos horários de trabalho. Neste cenário, a quem cabe, então, a educação dos miúdos? «A divisão tradicional de que a família educava e a escola instruía está a esbater-se de forma acelerada. Neste momento, a escola sente necessidade de educar a criança em questões relacionadas com o comportamento, que pertenciam à esfera da família. Os pais, que têm cada vez mais dificuldade em impor regras, confiam em que serão os professores a fazê-lo na escola. Ao mesmo tempo, os professores ficam aflitos porque os miúdos já não trazem regras de casa.»

E é com este círculo vicioso que se explica a cultura educativa atual em Portugal. «Tudo se baseia na culpabilização», diz o psicólogo. Quando as coisas não correm bem, a família entende que a escola não está a fazer o papel que deve fazer. Do outro lado, os professores dizem que há algo de errado com os pais. Uma troca de acusações que não ajuda ninguém. «Responsabilidade terão os dois. A culpa não interessa.» José Morgado é claro na hora de identificar quem sai verdadeiramente prejudicado neste conflito. Apanhadas no meio de uma guerra em seu nome, as crianças são muitas vezes utilizadas como joguetes. E recorre à figura do cavaleiro português que ficou entalado na porta do Castelo dos Mouros, tentando travar o avanço destes durante o Cerco de Lisboa no século xii, para descrever a situação destas crianças e jovens. «Os miúdos são o Martim Moniz da escola.»

A psicóloga Cristina Valente, autora do livro Coaching para Pais, fala na questão da confiança em falta. «Os pais e os professores são uma equipa. Nenhuma equipa do mundo trabalha se não existir confiança. Como se constrói essa confiança? Com respeito e comunicação. Mas é aqui que os problemas começam. Os pais não comunicam com a escola porque não têm tempo. A escola não comunica porque os pais não vão lá e temem aquilo que os professores vão dizer.»

Portanto, na questão de saber quem manda na sala de aula, talvez o verbo mandar não seja o mais indicado. A sala de aula é o espaço por excelência do professor, mas não há forma de deixar os pais do lado de lá. Para que este conflito seja resolvido, as duas partes terão de dialogar e compreender que são, de facto, uma equipa em que quem tem realmente de ganhar são os alunos, as crianças, os adolescentes.

Anabela Sousa está farta de ser chamada à escola do filho mais velho para ouvir queixas da professora relativamente ao mau comportamento de Duarte, 8 anos. «A escola diz que a gente não educa os nossos filhos e que eles são mal-educados», lamenta esta esteticista de 31 anos, a voz cheia de revolta e de indignação. Sente-se atacada e defende-se. «Os pais realmente andam ocupados e trabalham, mas eu faço questão de jantar com os meus filhos todas as noites», diz. «Mesmo assim, ela [a professora] continua a insistir que o Duarte é problemático ou que não interage com as outras crianças como devia.» Anabela ouve regularmente dizer que o filho «desestabiliza a aula», que «não acata as regras do adulto», que «é problemático», que «desencadeia conflitos». Se não forem tomadas providências, Duarte acabará por «incendiar as salas de aula e bater nos professores», avisou uma vez a professora. Mas quando Anabela Sousa chega a casa, não encontra a criança descrita pela escola. «Ele é amigo das irmãs, ajuda-me muito, tem boas notas. Como é que pode ter tão bom aproveitamento e ser o selvagem que elas [as professoras] pintam? Os relatórios dos psicólogos e dos médicos dizem que ele é uma criança normal. Bem sei que os miúdos podem não se comportar da mesma forma em casa e na escola, mas ele não é um selvagem e fazem-me acreditar que sim», diz esta mãe, simultaneamente confusa e triste.

Anabela já tentou conversar com o filho, explicar-lhe que ele tinha de se portar melhor. Chegou mesmo a castigá-lo. Agora arrepende-se de o ter feito. «Ainda o faço acreditar que ele é mau», diz, acusando a culpa que sente e assumindo-se incapaz de resolver a situação. «Ele diz-me: “Ó mãe, eu não sei como é que me hei-de portar bem.” Eu já desisti. Se ele faz uma asneirola, castigo-o – é o meu dever. Mas como acho que ele não é a pessoa que a professora diz que é, ignoro. Como tem bom aproveitamento, deixo andar.» Esta mãe, que afirma recusar «fazer do filho saco de boxe», defende que cabe à professora domar a indisciplina. «Eu digo-lhe a ela para o castigar na escola. Ela não pode estar sempre a incomodar-me e a pedir-me para ser eu a impor as regras que ela quer. Digo-lhe: “Você é que é a dona da aula, tome as providências e saiba gerir os seus alunos.”»

Para Anabela só há uma explicação possível para o que está a acontecer com o filho. Duarte está a ser perseguido, diz, convicta. Foi tomado de ponta. No ano anterior, a mãe apercebeu-se de que o filho estaria a ser vítima de bullying e fez queixa à escola, que, na sua opinião, «não tomou as providências suficientes» para controlar a situação. Uma vez que o pai dos filhos é agente da PSP, esta mãe decidiu fazer queixa à polícia, que se dirigiu à escola, onde terá sido mal recebida. «Entrámos em guerra», diz Anabela Sousa. Uma guerra que, acredita, dura até agora, com a alegada perseguição do filho por parte da professora. «Isto na minha cabeça deve-se ao facto de eu me ter imposto», afirma. Anabela Sousa ponderou mudar o filho para outro estabelecimento de ensino, mas desistiu da ideia, temendo nova vingança da professora, que seria obrigada a preencher um relatório de transferência.

«Eu já vi que ela é má. Vai dizer que ele é o maior delinquente do mundo e o meu filho será massacrado vá para que escola for.» Por isso, decidiu «ignorar e deixar passar», adotando a estratégia de «aguentar o massacre» até ao fim do 4.º ano, altura em que Duarte mudará obrigatoriamente de professora. E até lá procura apetrechar o filho com as ferramentas necessárias para a sobrevivência. «Se ele faltar ao respeito à professora, eu tenho de intervir, mas quando são lutas entre colegas… É normal baterem-se. Ele já levou muito. Eu digo-lhe: “Não provoques ninguém, mas se te baterem, bates também, se te chamarem nomes, chamas também.” A professora diz-me que isto é instigar a violência. E eu pergunto-lhe: “Quer que o meu filho seja o quê? Quer que dê a outra face, como Cristo?”»

O caso de Anabela e Duarte pode em parte ser explicado pela dificuldade que os pais sentem em impor regras aos filhos ficando, quando o fazem, com sentimentos de culpa e com o receio de estarem a prejudicar a relação. Como explica José Morgado, muitos pais precisam de ajuda em áreas de orientação educativa de forma a perceberem como podem regular aquilo que os filhos podem ou não fazer. «Muitos pais perguntam-me: “Mas estou tão pouco tempo com o meu filho, vou estragar esse tempo ralhando com ele?”» É precisamente isso que devem fazer, responde-lhes o psicólogo. «Tem de ser. É necessário que o pai se sinta forte e apoiado e que alguém lhe confirme que aquele é um bom serviço que está a fazer ao filho», continua, deixando uma sugestão para os presentes de Natal: «Ofereça às crianças um saquinho de nãos.»

Cristina Valente pensa que, de uma forma geral, quando há um problema na escola, os pais «se demitem da sua parte do trabalho», não compreendendo que «são responsáveis por praticamente tudo aquilo que acontece na vida de uma criança ou de um adolescente, que, se não tiver estrutura em casa, vai criar problemas na escola». Para a psicóloga, quando os pais se demitem de tentar resolver os problemas, perdem razão de queixa. «Se um pai tiver razão para duvidar da competência de um professor, tem de defender o seu ponto de vista até ao limite daquilo que está no seu controlo. Em última instância, pode fazer queixa ao Ministério da Educação. Se conseguir resolver a situação, fantástico. Se não conseguir, em último caso, o aluno poderá ter de mudar mesmo de escola», defende Cristina Valente, mostrando que existem muitas ferramentas através das quais os pais podem agir e que justificar a inação com medo de represálias serve apenas uma estratégia de desresponsabilização.

Jorge Ascenção, presidente da Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap), defende que o trabalho coletivo dos pais, envolvidos nas associações de pais, é uma dessas ferramentas. «Temos uma intervenção e uma ação pedagógica para estudar as causas dos problemas. Falamos com a direção da escola, com o diretor de turma, ouvimos o jovem e tentamos fazer um diagnóstico.» Mas nem todas as escolas se relacionam bem com as estruturas de representação dos pais. «Para algumas somos demasiado proativos, incomodamos», critica, chamando a atenção para o risco acrescido que implica essa falta de trabalho de equipa: «Quando os pais decidem agir cada um por si pode ser pior porque nem sempre atuam junto dos órgãos educativos com o respeito institucional devido.»

Por vezes, o diagnóstico feito pelas associações de pais põe os seus representantes do lado dos professores. Jorge Ascenção diz que já se sentiu obrigado a travar situações extremas em que os pais acreditaram excessivamente nos filhos e, para os defender, quiseram deslocar-se à escola para ameaçar um professor. «Quando isso acontece, dizemos: “Olha que isso não é o melhor para o teu filho.”» Nessas situações, Jorge Ascenção, que diz estar do lado dos alunos em primeiro lugar, não vê qualquer problema em assumir: «Já estive muitas vezes na linha da frente a defender professores contra pais.»

Nessa linha de defesa dos docentes está, quase sempre, Paula Moreira. Esta secretária de administração de 50 anos já procurou um professor da filha para questionar uma avaliação. Mas, contrariamente àquilo que é normal, quis saber junto do docente se não seria preferível reprovar a aluna, para que ela «acordasse». O professor explicou-lhe que isso não seria necessário e não deu uma nota negativa à filha de Paula, que aceitou a decisão: «Não quero questionar as notas da minha filha. Os professores agora só reprovam mesmo as situações mais dramáticas», diz.

Paula Moreira tem uma postura vincada no que diz respeito à forma como interage com a escola: «Os pais devem interferir o menos possível, sem fundamentalismos, naturalmente, mas, no geral, acho que os professores é que sabem a dinâmica da escola, eles é que trabalham com os alunos. Os pais devem acompanhar a situação, mas geri-la com bom senso. Se houver situações mais graves, resolvem-se com diálogo», diz. Mesmo quando a filha lhe apresenta uma queixa, Paula procura avaliar a situação e, se perceber que não houve injustiça da parte do professor, tenta explicar
à filha as possíveis razões da atitude do docente.

Mas, pelo menos na escola da filha, tem consciência de ser um caso raro. «Vejo que os pais são muito radicais e viram-se contra os professores, que ficam melindrados. Nas reuniões, há pais que são muito ríspidos no tom de voz que usam e nas críticas que fazem», continua, criticando a discussão de assuntos particulares à frente de todos nas reuniões de encarregados de educação. «Cria-se um ambiente em que os professores se sentem humilhados e atingidos.»

No lado oposto da barricada estão alguns dos pais que Luísa Vasconcelos (nome fictício) teve de enfrentar até à reforma antecipada, há dois anos. Numa escola do centro de Lisboa, tradicionalmente frequentada por crianças e jovens de classe média alta ou alta, não eram tanto as questões de indisciplina que tiravam o sossego a esta professora de Educação Visual. «Os meus alunos eram todos filhos de médicos, advogados, empresários, ministros… Os pais achavam que os filhos eram todos muito talentosos e geniais», diz, acrescentando que a tolerância ao insucesso nestas famílias é muito reduzida e contando vários episódios que o ilustram.

Apesar de resistir à insistência de um pai para que lhe cedesse o seu contacto telefónico pessoal, Luísa Vasconcelos não conseguiu escapar a uma conversa abusadora. O pai em questão contornou a resistência da professora ligando para o filho enquanto este se encontrava na sala de aula e pedindo-lhe que passasse o telemóvel à docente. Luísa Vasconcelos atendeu e do outro lado da linha ouviu um pai, advogado, recorrer aos mais variados argumentos para convencê-la a revelar as perguntas que constariam do teste de avaliação do filho, no dia seguinte, determinante para que este transitasse de ano. Luísa recusou.

Noutra ocasião, intrigada com a melhoria significativa dos trabalhos de uma aluna a quem tinha atribuído a classificação negativa de 2, descobriu que a rapariga mantinha duas capas-portfólio na escola para poder levar uma para casa e que a caligrafia dos trabalhos não correspondia à da jovem. Ao confrontá-la, acabou por perceber que o pai da menina, arquiteto, se ocupava a fazer os trabalhos de casa pela filha. A mãe, encarregada de educação, foi chamada à escola e pediu, envergonhadamente, desculpa à professora. «Já viu o que é uma filha de um arquiteto ter 2 a Educação Visual?», desabafou na altura a mãe, comprometida.

Ao ouvir o relato da história do arquiteto que fazia os trabalhos de casa da filha, Cristina Valente não hesita: «Os pais hoje são muito narcísicos. O que estava em causa nessa situação era a imagem do sucesso do pai.» Casos em que os pais fazem as tarefas dos filhos são «criminosos», considera a psicóloga, assim como todo o tipo de interferência parental no sentido de pressionar um professor a alterar uma avaliação. «Acho absurdo quando os pais interferem na questão da avaliação dos filhos. Estão a borrar a pintura toda, a desautorizar os professores e a escola», que devem, na sua opinião, «manter sempre uma posição segura e firme».

Mesmo em casos de possível injustiça na avaliação, Cristina Valente tem uma posição pouco ortodoxa, desafiando os pais a não se intrometerem. «É melhor dar ferramentas aos filhos para que eles tentem resolver a situação – questionando, por exemplo – do que resolver o problema por eles. Porque assim não os ensinam a lidar com as injustiças que enfrentarão pela vida fora.» A psicóloga defende uma abordagem que tenha em vista o longo prazo e que olhe para as várias componentes que vão formar o sucesso da criança, nomeadamente as competências sociais e pessoais. Competências que não se reduzem à capacidade de ter boas notas. «Os pais têm muito medo do futuro e com base nisso querem artilhar os filhos com aquilo que acham que garante o sucesso. As ferramentas mais visíveis são as boas notas, mas não é por aí e os pais têm de perceber isso», diz Cristina Valente.

No que respeita à avaliação, os pais mais «reclamantes são, geralmente, os mais escolarizados», diz José Morgado. Porque são aqueles que mais reconhecem a importância da educação no seu percurso de vida. Num cenário educativo de «obsessão com rankings e exames», há uma pressão acrescida junto das famílias para que os filhos tenham bons resultados. Nos casos em que os pais agem de forma intimidatória junto dos professores, estes geralmente recorrem ao argumento de autoridade, são eles os guardiões das notas, explica o psicólogo. «Ora, este discurso de poder não ajuda. É uma luta de galos» Tanto por parte dos pais, quando usam o estatuto social ou a violência como forma de intimidação, como dos professores quando, de forma irredutível, não abdicam da sua autoridade na avaliação, recusando o diálogo.

Para o psicólogo, a solução passa por tornar transparentes os critérios de avaliação logo desde o início do ano. «A escola, sem abdicar da competência nesta matéria, devia informar os pais relativamente ao peso dos testes, do comportamento e da participação na nota final», diz, deixando ainda uma sugestão aos pais: «Comportamento gera comportamento. Se um pai abordar um professor de forma mais cordata, o professor terá mais disponibilidade para explicar a decisão.»

Diana Ferreira (nome fictício), professora de Educação Visual numa escola da zona do Porto, já se viu barricada dentro de uma sala de aula enquanto lá fora um encarregado de educação a ameaçava e já teve de enfrentar pais descontentes que não admitiam que uma falta disciplinar manchasse a caderneta do filho. Todas estas situações desgastaram-na emocionalmente, deixando-a de «pé atrás» quando tem de falar com encarregados de educação. Mas, por vezes, há surpresas. Enquanto diretora de turma foi obrigada, em determinado momento, a confrontar os pais de um menino que tinha proferido um palavrão na aula de Inglês e que tinha escondido a caderneta onde a docente da disciplina apontara essa falta de comportamento. Diana Ferreira relatou aos pais o sucedido, mas estes recusaram, de forma algo agressiva, acreditar na descrição da diretora de turma, que foi forçada a mostrar o registo da professora de Inglês. Nesse momento, os olhos da mãe da criança encheram-se de lágrimas e a mulher ficou em silêncio durante alguns minutos. Depois, enfrentou a professora e agradeceu-lhe. «Se não me tivesse mostrado isto, eu nunca saberia aquilo de que o meu filho era capaz de fazer», disse, envergonhada e em choque, mas grata.

Por vezes, mesmo em situações em que os pais confiam plenamente na inocência dos filhos – num mecanismo conhecido por autoestima parental, como explica José Morgado, em que o pai pensa que o filho «é mais bonito e inteligente do que o filho do vizinho» – há espaço para aprendizagem, para assumir o erro e para trabalhar em equipa. Nessas situações, todos ficam a ganhar: pais, professores e crianças.

OS CONSELHOS PARA OS PAIS:
_Aborde o professor e a escola de forma não intimidatória, procurando antes dialogar e compreender;
_Experimente deixar o seu filho resolver sozinho questões de injustiça com professores para que ele se habitue a desenvolver autonomia. Mostre-lhe de que forma ele pode questionar uma decisão ou uma nota de forma educada;
_Nunca faça os trabalhos de casa pelo seu filho;
_Não tenha medo de dizer não, de impor regras, de se chatear com o seu filho, mesmo que tenha de o fazer nas poucas horas que passam juntos. Regular o comportamento da criança será uma vantagem no longo prazo;
_Vá à escola, conheça as regras, mostre preocupação e interesse pela educação do filho e pela vida escolar.

OS CONSELHOS PARA OS PROFESSORES E PARA A ESCOLA:
_Procure desenvolver competências de gestão de conflitos para conseguir detetar que algo incomoda o aluno, prevenindo situações de indisciplina ou mau comportamento;
_Defina os critérios de avaliação desde o primeiro dia de aulas e deixe-os bem claro junto dos pais para que estes possam compreender melhor as avaliações dos filhos;
_Não abdique da assertividade e da autoridade. Tenha confiança nas suas decisões e mostre isso aos encarregados de educação, sem recorrer a uma postura arrogante mas promovendo o diálogo e a conciliação;
_Procure trabalhar em conjunto com os pais, informando-os de tudo aquilo que acontece na escola.

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