terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Pais já podem saber que escolas “puxam os alunos para cima”

Os alunos melhoram os seus resultados nos exames entre o 9.º ano e 12.º? Ou, pelo contrário, pioram? E as escolas inflacionam as notas que lhes dão ao longo do ano? O Ministério da Educação e Ciência (MEC) apresentou nesta terça-feira uma plataforma online que permite dar algumas pistas sobre o que se passa em cada uma das 587 escolas com alunos matriculados em cursos científico-humanísticos. “É um dia importante”, disse o ministro Nuno Crato na apresentação do Portal InfoEscolas, uma ferramenta que, para o governante, significa “uma maior transparência” do sistema.

O ministério divulga assim o resultado do cruzamento de uma série de dados escola a escola — alguns deles têm sido facultados aos órgãos de comunicação social para a elaboração de rankings, mas agora é a tutela a tratá-los. Passam, assim, a ser disponibilizados pelo Executivo não só uma breve fotografia demográfica de cada estabelecimento (número de alunos matriculados em cada um, a sua distribuição etária, por sexo, nacionalidade e curso) mas, sobretudo, “indicadores de desempenho escolar”. E é neste último grupo que se encontram dados “novos”, como explicou o subdiretor da Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência, João Baptista.

Um deles é o “indicador da progressão relativa dos alunos entre o 9.º ano e o 12.º ano”. Trata-se de comparar os resultados dos estudantes de cada escola nos exames de Português e de Matemática do 12.º ano, com as notas que os mesmos alunos haviam obtido, três anos antes, nos exames de 9.º ano destas disciplinas.

Por exemplo: se um aluno no 9.º ano estava abaixo da média nacional e no 12.º estava acima da média, então teve uma progressão relativa positiva. O que o Portal InfoEscolas mostra é isto: qual foi a evolução média em cada escola nos últimos anos? “O indicador da progressão tem em consideração o nível académico dos alunos que a escola recebe, não olhando apenas para os resultados absolutos à saída, no 12.º ano”, explicou João Baptista.

Trata-se, nas palavras de João Baptista, de saber se “a escola conseguiu puxar os alunos para cima” ou não, independentemente de se destacar mais ou menos em termos de médias nos exames quando comparada com a média nacional. E há escolas que podem nem se destacar muito mas conseguir, sistematicamente, que os seus alunos progridam.

O portal permite ainda comparar os resultados dos alunos do 12.º ano de cada escola com os obtidos pelos alunos das outras escolas públicas do continente que têm contextos semelhantes no que se refere a: idade dos alunos, distribuição por género, escolaridade dos pais, apoios da ação social escolar, estabilidade do corpo docente, dimensão das turmas e diversidade de ofertas formativas. E apresenta taxas de retenção e de desistência para cada uma — sempre em comparação com aquele que é o insucesso escolar a nível nacional.

Outra indicador permite obter pistas sobre “aquele problema muito discutido" de poder haver "inflação de notas em algumas escolas e colégios”, como disse João Baptista. Recorde-se que os exames nacionais valem apenas 30% da nota final dos alunos — a nota interna, aquela que é atribuída pelos professores, tem, por isso, um peso importante na classificação com que os estudantes acabam o secundário (e se apresentam como candidatos ao ensino superior). “O indicador do alinhamento compara as notas internas atribuídas pela escola aos seus alunos com as notas internas atribuídas pelas outras escolas do país a alunos com resultados semelhantes nos exames nacionais. Ao comparar alunos que obtêm classificações semelhantes nos exames, o indicador mede possíveis desalinhamentos, entre as escolas, do grau de exigência na atribuição de notas internas”, lê-se numa nota explicativa entregue aos jornalistas.

“Exemplo: se as notas internas atribuídas pela escola A são sistematicamente mais altas do que as notas atribuídas pela escola B a alunos que, posteriormente, obtêm os mesmos resultados nos exames nacionais, então é possível que a escola A esteja a utilizar critérios de avaliação do desempenho escolar dos seus alunos um pouco diferentes dos critérios utilizados pela escola B.”

João Baptista acredita que as escolas têm agora “informação que não tinham” para refletir sobre os critérios que estão a usar para avaliar internamente os alunos, podendo comparar-se com outras. E isto poderá contribuir para uma “maior uniformização dos critérios de atribuição de notas” no país.

Nuno Crato sublinhou que o novo portal permitirá aos pais “fazer escolhas mais informadas”, mas também intervir e colocar questões à escola dos filhos. Servirá também aos professores para que possam “perceber melhor o que se passa na sua escola” comparando-se com outras e com o resto do país. E servirá ao “público e à comunicação social”, dando-lhes “mais meios para terem uma discussão mais informada sobre educação”. (...)

“Mais informação é mais poder para intervir e melhorar”, sublinhou Nuno Crato.

Fonte: Público

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