sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Fundação Champalimaud identifica hormona da paciência

Num estudo publicado na revista científica Current Biology, um grupo de investigadores, liderado por Zachary Mainen (na foto) do Centro Champalimaud, em Lisboa, observou que há uma relação entre a activação dos neurónios que produzem serotonina e o tempo que os ratos estão dispostos a esperar por uma recompensa. Este mesmo estudo permitiu também rejeitar a ideia de que o aumento de serotonina produz um efeito gratificante.

A serotonina é um neuromodulador químico, alvo de medicamentos antidepressivos, como o Prozac, que são utilizados frequentemente no tratamento da depressão e de outros distúrbios, como é o caso da dor crónica. A serotonina é produzida por um pequeno conjunto de neurónios. No entanto, sabe-se ainda muito pouco sobre o que provoca a activação destes neurónios e consequente libertação da serotonina, e como é que a serotonina afecta a actividade cerebral.

Com o objectivo de investigar a relação entre a serotonina e a paciência, os investigadores desenvolveram uma tarefa na qual os ratos têm que esperar pacientemente por uma recompensa que chega em momentos aleatórios.

Madalena Fonseca, uma das investigadoras envolvidas no estudo, explica: "A optogenética é uma técnica que combina ferramentas genéticas e ópticas, de forma a tornar os neurónios produtores de serotonina sensíveis à luz. Assim, sempre que incidimos luz sobre estes neurónios, libertou-se serotonina por todo o cérebro."

Os cientistas observaram que, quando os neurónios de serotonina eram ativados pela luz, os ratos tornavam-se mais pacientes. "Quanto mais serotonina era produzida pelos neurónios, mais tempo os ratos esperavam", diz Masayoshi Murakami, outro cientista envolvido na pesquisa.

Este estudo tem implicações para a compreensão do envolvimento de serotonina na depressão e outras doenças. "Como se pensa que os antidepressivos aumentam os níveis de serotonina, é comum as pessoas assumirem que quanto mais serotonina os neurónios produzirem, melhor se irão sentir. O que os nossos resultados vêm demonstrar é que a história não é assim tão simples", conclui Zachary Mainen.

Sem comentários: