sábado, 10 de janeiro de 2015

A Matemática serve para quê? Olha, serve para saber com quantas te apanham bêbado

A pergunta é mais que comum: "Mas para que é que serve a matemática, para que é que tenho de saber isto?" Depois de, na primária, os exercícios lidarem com bolos e laranjas, seguem-se anos de estudo de números vistos como abstratos, que muitos sentem dificuldade em concretizar. Para demonstrar que esta ciência está presente em tudo, e uma vez que o público alvo eram jovens, nada como improvisar um bar e fazer contas às bebidas permitidas até o balão indicar que se passou o limite. E assim se passou a noite de quinta-feira, na sala de eventos do ISEP, onde os alunos de 10º ano da Escola Secundária Filipa de Vilhena tiveram aquela que seria a primeira aula da 2ª edição do projeto “Matemática Fora de Horas”.

Ao contrário de uma sala de aula normal, em que as mesas são individuais ou aos pares, aqui os estudantes puderam agrupar-se em mesas redondas de cinco lugares, num ambiente mais descontraído. Os habituais cadernos e porta-lápis foram substituídos por algo pouco comum no mundo escolar. Para ilustrar uma aula em que o tema foi o cálculo da taxa de alcoolémia no sangue, sobre as mesas encontravam-se garrafas de álcool vazias, desde o vinho à cerveja.

Após a explicação teórica da matéria, dada por uma docente de matemática do ISEP, é hora de pôr mãos à obra e realizar um exercício prático. Na mesma mesa, quatro alunas já terminaram o exercício. Maria João, Filipa, Inês e Rita estão apenas no 10º ano do Curso Científico-Tecnológico e ainda têm algumas dúvidas do que querem seguir no futuro, ainda que apontem áreas como a Medicina, a Engenharia ou a Medicina Dentária. O gosto pela matemática sempre existiu, mas nem sempre com a noção de que esta ciência pode ser útil no quotidiano. “Às vezes fazemos uns cálculos que achamos que nunca vão servir para grande coisa, mas aqui notou-se que afinal até se usa”, afirma Rita.

Embora não vejam a matemática com maus olhos, as estudantes admitem que é assim que a maior parte dos jovens encara a disciplina. “Por norma, quase ninguém gosta de matemática porque é uma coisa que é preciso exercitar muito para se conseguir fazer. E a maior parte das pessoas não tem paciência para isso e diz que é uma seca”, explica Filipa.

Alexandre e Rúben pensam que o interesse pela matemática têm de ser incutido desde cedo e que o professor é fundamental para conseguir prender a atenção do aluno. Os estudantes divertiram-se com o cálculo da taxa de alcoolémia, mas continuam com a opinião que nem tudo na matemática é aplicável no dia-a-dia. “Há muitas matérias que têm interesse, mas há determinadas que olhamos e, mesmo depois da atividade, pensamos que não vão servir para nada”, diz Alexandre.

Desmistificar o conceito de uma disciplina complicada foi o desafio do ISEP e da Câmara Municipal do Porto ao continuar com o “Matemática Fora de Horas”. O ambiente é descontraído e permite aos alunos e professores um convívio no final dos exercícios. Amélia Caldeira é professora no Departamento de Matemática do ISEP e confirma que após uma 1ª edição com bastante adesão, houve a possibilidade de continuar a mostrar que a matemática está em todo o lado. “O objetivo do programa é exatamente mostrar que esta é uma ciência viva que tem aplicações e que aqueles conceitos que eles aprendem nas aulas realmente podem aplicar em coisas quotidianas, do dia-a-dia”, explica a coordenadora do projeto.

O lema é descomplicar uma matéria que, na opinião de Amélia Caldeira, já é vista de forma negativa desde “os tempos antigos”. “Julga-se sempre compreensível ter negativa a matemática e isso não pode ser porque, no fundo, a matemática gere o mundo”, afirma a professora.

Da mesma opinião é João Rocha, presidente da instituição que esteve presente na aula inaugural da 2ª edição do projeto. O professor explica que, ao serem apresentados modelos palpáveis e concretos da realidade, é possível ajudar os alunos a “perder o medo” e a perceber que a “matemática está em tudo que se faz”.

Além de apresentar a alunos dos diversos agrupamentos de escolas da cidade uma forma mais dinâmica de encarar a matemática, o objetivo passa por aproximar os estudantes das áreas científicas e tecnológicas que, de acordo com o presidente do ISEP, são áreas com “uma maior possibilidade de aceder ao mercado de trabalho” e “fundamentais para o progresso e desenvolvimento do país”.

Após os exercícios, a aprendizagem dá lugar ao convívio entre professores e estudantes, com a Tuna Académica do ISEP que apresenta alguns temas e ilustra a tradição e a diversão académica do mundo universitário. As bebidas alcoólicas são substituídas pelos sumos e águas fornecidos pela Unicer, num momento descontraído e informal, com música, palmas e algumas gargalhadas.

E como as festas académicas são sempre significado de alguns excessos, dois oficiais da GNR entram em ação e convidam os estudantes a aplicarem a matéria há instantes estudada. Ainda que as bebidas alcoólicas tivessem sido apenas a brincar, alguns alunos oferecem-se para fazer o teste do balão. A polícia alerta para a prevenção e responsabilidade da condução e explica aos alunos os valores permitidos para conduzir. (...)

Fonte: Público

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