terça-feira, 18 de março de 2014

Crianças com problemas de saúde mental sem acompanhamento

O médico refere que o Algarve é uma região “com graves problemas económicos e com muitos problemas sociais, com uma população muito flutuante, marcada pelo trabalho sazonal. As crianças sentem a crise, sentem a insegurança à sua volta”, diz. Defende que é uma zona do país que, do ponto de vista da saúde mental infantil, “merece uma atenção particular. Tem muita imigração, famílias muito desestruturadas. Há crianças muito entregues aos avós”. Os problemas mais frequentes são “perturbações de comportamento". "É um diagnóstico muito lato que por detrás pode ter depressões”, também há problemas “com dificuldades de aprendizagem e situações mais graves de psicose”.


A Administração Regional de Saúde do Algarve responde que, tendo terminado no final de dezembro de 2013, existe “a proposta de um novo protocolo, em tudo semelhante ao anterior”, mas agora com o Centro Hospitalar Lisboa Norte-Hospital de Santa Maria, “o atual hospital de referência da Região do Algarve na área da pedopsiquiatria no âmbito da Rede de Referenciação Hospitalar”. O objetivo, diz-se, “é continuar a assegurar e se possível reforçar o apoio na área da pedopsiquiatria aos Grupos de Apoio à Saúde Mental e Infantil. Aguarda-se a sua formalização.” A ARSA não respondeu às perguntas (...) sobre o impacto que a suspensão do programa está a ter no acompanhamento das crianças.

João deixou de ser seguido por estas equipas porque ultrapassou os 13 anos, foi acompanhado dos 6 aos 10 anos, foi medicado para a agitação, fez terapia ocupacional e psicoterapia, e a equipa articulava com a educação especial da escola, diz a mãe. Ana diz que João “necessitaria de acompanhamento de psicoterapia semanal”, no privado é-lhe impossível pagar, o mais que consegue por estes dias é ir três vezes por ano a Lisboa”.

"Profunda preocupação"

O diretor do Programa Nacional para a Saúde Mental, Álvaro Carvalho, diz ter apenas conhecimento informal da suspensão do protocolo, sabendo de médicos de família do Algarve que medicaram crianças com psicotrópicos com orientação de um pedopsiquiatra e que agora não sabem o que fazer. Encara a suspensão “com profunda preocupação". "Só conheço referências elogiosas ao projeto, que cobre 80 a 90% das crianças do Algarve. Nasceu porque estas crianças eram encaminhadas para as urgências em Lisboa, com todos inconvenientes das deslocações, onde acabavam por nunca ser vistas pelo mesmo médico”.

Álvaro Carvalho diz que “não encontra motivos racionais nem informações consistentes para esta medida súbita tomada sem informação prévia”. Quanto à informação de passar a ser o Hospital de Santa Maria a assegurar este serviço, o responsável diz que a unidade só tem dois a três pedopsiquiatras, “Não tem elementos suficientes sequer para as necessidades internas. Como é que vai alargar a sua atividade a áreas tão distantes?”.

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