quinta-feira, 19 de abril de 2012

Nem demasiado fáceis, nem excessivamente complexos

(...) Com a entrada no terceiro e último período do ano, a azáfama aumenta nas escolas. Os alunos que têm exames no calendário têm de se preparar para uma etapa importante do percurso escolar, os professores lembram e insistem que é preciso estudar. Na preparação para os exames, o EDUCARE.PT recolheu pensamentos de vários professores que esperam que os exames não sejam demasiado fáceis, nem excessivamente complexos e que contenham questões que sirvam para separar o trigo do joio. E nada contra o regresso dos exames no 4.º ano do 1.º ciclo. Bem pelo contrário. 


Paula Canha, professora de Biologia e Geologia da Secundária Dr. Manuel Candeias Gonçalves, em Odemira, espera que os próximos exames nacionais não sejam demasiado fáceis ou excessivamente difíceis. E gostaria que houvesse um maior cuidado em alguns aspetos, nomeadamente nos critérios de correção para, explica, "não excluir respostas válidas e que correspondem às perguntas, mas não foram contempladas nas possibilidades de resposta pela equipa que elabora os exames". A professora, a quem o Ministério da Educação atribuiu o Prémio Inovação em 2008, gostaria também que as questões não fossem ambíguas e que houvesse uma menor variação no nível de dificuldade dos exames de ano para ano.

"Espero que os exames continuem, na linha do que tem acontecido nos últimos anos, a apelar à capacidade de interpretação do mundo real, integrando nesse processo todos os conhecimentos de uma forma articulada", refere. Nada de testes muito fáceis o que, na sua opinião, "ridicularizaria o sistema educativo, como aconteceu em alguns casos, no passado". Nem demasiado difíceis, embora admita que é desejável incluir algumas questões mais complexas para "evidenciar a excelência da preparação de alguns alunos". Por aquilo que vê, a sensação que tem é que os alunos do 12.º ano preparam-se melhor do que os do 11.º ano. O facto de estarem a dois passos de uma candidatura ao Ensino Superior pode ajudar a explicar essa dedicação. "Na realidade, os alunos estão cada vez menos convencidos que um curso superior seja realmente importante para o seu futuro, dado o elevado desemprego entre os jovens licenciados", comenta. 

Paula Canha concorda com a reintrodução dos exames no 4.º ano do 1.º ciclo que, na sua perspetiva, nunca deveriam ter saído do programa curricular. "Se assim fosse não teríamos alunos no secundário que não sabem ler, escrever e fazer operações matemáticas simples como dividir ou calcular uma percentagem". A docente defende, por outro lado, que as escolas do 1.º ciclo deveriam ser mais apoiadas no que diz respeito aos casos de alunos com problemas graves de competências sociais, deficiências físicas e mentais e problemas cognitivos e emocionais, nomeadamente através de equipas constituídas por psicólogos, assistentes sociais e técnicos formados em ensino especial. 

"Se assim não for, o professor não conseguirá ensinar os alunos a ler ou a fazer operações matemáticas." "Como se exige atenção e trabalho a um aluno com fome ou maltratado ou com graves problemas cognitivos?", questiona. Depois desse apoio então deve-se exigir ao professor do 1.º ciclo que prepare os seus alunos "para um exame rigoroso, exigente e incidindo, pelo menos, sobre os conhecimentos básicos de cálculo e da leitura". 

A professora Ana Paula Carvalho conta que a expectativa generalizada vai no sentido de os próximos exames serem mais difíceis e exigentes, tendo em conta a amostra dos testes intermédios, que confirmam uma maior dificuldade e que se traduzem em resultados não muito animadores. "Estes testes têm incidido mais na vertente do raciocínio e compreensão da leitura do que propriamente na explicitação do conhecimento", repara. "Ora, todos sabemos que aqui residem as maiores deficiências dos nossos alunos, e até o próprio GAVE já tem chegado a essa conclusão quando faz a análise dos exames nacionais", acrescenta. 

O problema, na sua opinião, não reside no aumento do grau de exigência dos exames nacionais, mas sim na forma como os alunos encaram esses testes, acabando por desvalorizar a importância que têm na nota final. "Não estudam, não se aplicam, é o lema do 'deixa andar' e, isso sim, é condicionador de todo o processo de ensino e de aprendizagem". E a experiência mostra que assim é, sobretudo no Ensino Básico, até porque há professores de Língua Portuguesa e de Matemática que se disponibilizam para continuar a trabalhar com os alunos depois do ano letivo terminar, e até à fase dos exames nacionais, mas são poucos os que comparecem as essas aulas. "Não vemos os alunos, pelo menos do Ensino Básico, preparados em preparar-se para os exames." 

"Tenho a firme convicção de que é imperiosa uma mudança radical de atitude e de postura dos alunos face à escola. É urgente a noção de que estudar impõe sacrifício, rigor e persistência e é também urgente a colaboração das famílias, no sentido de encararem a escola como um aliado em todo este processo", refere Ana Paula Carvalho. Concorda com os exames no último ano do 1.º ciclo. "Os alunos devem habituar-se a esta nova realidade de avaliação desde cedo", refere. 

Paula Carqueja, presidente da Associação Nacional de Professores (ANP), garante que os docentes começam a preparar-se para os exames nacionais logo no início do ano letivo. Mas com a aproximação do final do ano, e depois do arranque do 3.º período, a azáfama aumenta nas escolas. "É um frenesim para todo o público escolar, parece que a avaliação é mais rigorosa e as aprendizagens, com o aproximar da data dos exames, tornam-se mais adquiridas e as competências dos alunos mais desenvolvidas, aumenta a responsabilidade", afirma. 

Os exames são importantes e permitem várias leituras. "Poderão estatisticamente servir para aferir com fiabilidade sobre os resultados das aprendizagens dos alunos e, sobretudo, fazer uma avaliação das práticas letivas no sentido de possibilitarem uma reflexão na comunidade educativa sobre os resultados obtidos para obter mais e melhores resultados." E os alunos têm noção da importância dos exames para o seu futuro? Paula Carqueja falou com alguns alunos sobre o assunto e sentiu que eles estão preocupados com os testes porque têm receio da nota e dessa influência na média final. "No entanto, a opinião é generalizada: deve haver exames e eles são importantes." E porquê? "Uns porque consideram que os exames distinguem os melhores alunos positivamente, outros porque com os exames os professores sabem se os alunos estão realmente preparados para mudarem de ano." 

"Os exames são necessários para controlar a escola, o facilitismo de algum professor ou a exigência de outros". A presidente da ANP concorda plenamente com os exames no 4.º ano. "É uma forma de se valorizarem as provas de aferição já existentes. Os alunos já passam por momentos de stress sem 'nenhuma' compensação e com um rigor desmedido para umas provas sem compensação valorativa", sublinha. 

Manuela Sousa é professora do 1.º ciclo e coloca várias questões quando o assunto são os exames nacionais. "O ensino tem sido tão desvalorizado e tão facilitado que falar em exames nacionais pode ser preocupante para todos." Mesmo para todos. Para os alunos que sempre tiveram a vida facilitada e sempre passaram de ano, para os pais que estão habituados a que não haja qualquer chumbo no percurso dos filhos, para os professores que podem ver resultados nas pautas que não correspondam ao trabalho realizado durante o ano letivo. 

"Os resultados podem surtir efeitos tanto positivos como negativos. Dará para os dois lados. E tudo depende de um momento de uma prova. De um momento em que o aluno pode estar demasiado nervoso, adoentado..., e de uma prova que pode ser demasiado difícil ou demasiado fácil - como já aconteceu em provas de aferição." Em seu entender, os alunos ainda não têm a noção da importância dos testes nacionais e prevê que isso só acontecerá quando sentirem na pele ou conhecerem alguém que chumbou devido à nota do exame.
Sara R. Oliveira
In: Educare

Sem comentários: