quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

A família e o prazer da escrita


Como podem os pais contribuir para que o ambiente familiar motive as crianças para a escrita e ajude a desenvolver competências nesse domínio? Dizer que escrever é bom e paralelamente evitar realizar essa actividade é demonstrar precisamente o contrário.
Olha para o que eu faço, não olhes para o que eu digo.

Dificuldade em escrever e falta de gosto pela escrita são dois problemas que afectam muitas crianças e jovens e que preocupam professores e pais. Se a escrita é uma actividade inexistente no ambiente familiar ou considerada muito difícil, as crianças crescem ignorando-a ou desenvolvendo concepções negativas a seu respeito (como, por exemplo, escrever é muito difícil, escrever é muito aborrecido ou dá muito trabalho...).

Como podem os pais contribuir para que o ambiente familiar motive as crianças para a escrita e ajude a desenvolver competências nesse domínio? Dizer que escrever é bom e paralelamente evitar realizar essa actividade é demonstrar precisamente o contrário. Torna-se necessário haver coerência entre as palavras e os actos. A realização conjunta de actividades de escrita, de carácter utilitário ou lúdico, na família é uma boa forma de incentivar o gosto por elas. Seguem-se alguns exemplos de actividades que fazem apelo a diferentes tipos de conhecimentos e implicam diferentes graus de dificuldade (estas propostas devem ser seleccionadas de acordo com o nível etário da criança e com os seus conhecimentos no domínio da escrita):

1. Recados
A comunicação na família pode, em determinadas circunstâncias, ser feita através de recados escritos. Exs: a criança chega a casa antes dos pais e estes deixam-lhe uma mensagem escrita para que não se esqueça de fazer os TPCs e de preparar a pasta para o dia seguinte; a criança pede aos pais que lhe comprem determinado material para a escola e eles sugerem-lhe que escreva um bilhete para eles não se esquecerem de o fazer.

2. Dicionário ilustrado
Ajude o seu filho a fazer pequenos dicionários temáticos ilustrados. Para um dicionário sobre animais, por exemplo, a criança desenha um animal ou cola uma imagem em cada folha A5 e escreve o nome dele. Pode também acrescentar um pequeno texto informativo com características desse animal. As capas podem ser feitas em cartolina, com uma ilustração adequada e o nome do dicionário e do autor (a criança). Para terminar, peça ao seu filho que fure as folhas e as capas e as una utilizando um fio ou uma fita.

3. Oferta de cadernos
Adquira ou faça cadernos que sejam bonitos e fora do comum e ofereça-os aos seus filhos para que escrevam histórias e as ilustrem.

4. Concursos
Há revistas infantis e editoras de livros infantis e juvenis que promovem concursos de escrita. Incentive os seus filhos a participarem e/ou sugira aos professores que também o façam nas suas aulas.

5. Passatempos de revistas
Ofereça aos seus filhos revistas com jogos de palavras, tais como palavras cruzadas e sopas de letras. Se eles não mostrarem grande interesse por essas actividades, procure fazer os jogos em conjunto com eles, para que adquiram gosto e motivação. Estes passatempos contribuem para o desenvolvimento de vocabulário e para a correcção ortográfica.

Escrevendo num ambiente agradável e lúdico pode-se ganhar gosto pela escrita e pode-se aprender a escrever melhor.
Armanda Zenhas
In: Educare

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Workshop: A Hiperactividade

PPDA - Associação Portuguesa para as Pertubações do Desenvolvimento e do Autismo - Setúbal
Este Workshop terá uma parte mais expositiva, centrada na teoria e apresentando o corpo teórico que será a matriz da intervenção, e uma parte mais prática, centrada na intervenção e apresentando indicações gerais e específicas para orientar a intervenção e gestão diária do comportamento das crianças e adolescentes com PHDA nos diferentes contextos de vida. 

Formadoras

  • Joana Carneiro
  • Sara Simões
*Ambas técnicas do SEI - Centro Desenvolvimento e Aprendizagem

Destinatários

  • Pais
  • Professores e Educadores de Infância;
  • Técnicos;
  • Estudantes;
  • Outros interessados.

Programa

  • 09:30h – Recepção dos participantes
  • 10:00h
    • Pertubação da Hiperactividade e Défice de Atenção - Definição, Critérios de diagnóstico (DSM IV) e Subtipos
    • Prevalência
    • Etiologia
    • Comorbilidade
    • Modelo teórico
  • 11:30h - Coffee Break
  • 12:00h
    • Intervenção - Algumas Indicações Gerais
    • Integração na Educação Especial e Adequações no Processo de Ensino e Aprendizagem
    • Técnicas, Estratégias e Procedimentos úteis no contexto de sala de aula e no contexto familiar
  • 13:00h – Pausa para almoço
  • 14:30h – Casos Práticos
  • 15:30h – Intervalo
  • 15:45h – Casos Práticos
  • 17:30h – Encerramento

Local

Av. Cova dos Vidros, lote 2367 R/C Quinta do Conde 2975-333 Sesimbra

Número de Participantes

24 Formandos (selecção por ordem de chegada das inscrições)

Duração

6 Horas

Secretariado

Helena Romeiro – 933 407 369
Carmen Cristino – 919 530 777
Telefone/Fax: 265 501 681, Email: appda-setubal@sapo.pt

Coordenadoras

Elisabete Ferreira – 913 093 321
Isabel Batista – 966 044 589

Inscrição

Sócios da APPDA – Setúbal e Estudantes – 35.00€
Não Sócios – 40.00€

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Qualificação das Pessoas com Deficiências e Incapacidades

Segundo informação prestada pelo Instituto do Emprego e Formação Profissional, I.P. (IEFP, I.P.), enquanto Organismo Intermédio, encontra-se a decorrer, entre os dias 2 e 31 de Dezembro de 2010, o período para apresentação de candidaturas, para o ano de 2011, no âmbito das Tipologias de Intervenção 6.2/8.6.2/9.6.2 – Qualificação das Pessoas com Deficiências e Incapacidades e 6.4 – Qualidade dos Serviços e Organizações, especificamente, acções de formação e sensibilização dirigidas a técnicos e outros profissionais de reabilitação profissional, nos termos e condições definidos nos respectivos avisos de abertura de candidaturas.

Trata-se de uma oportunidade de candidatura à formação profissional inicial para jovens com deficiência e limitações, com idade igual ou superior a 15 anos e que se encontrem fora da escolaridade obrigatória.

Falta de fundos para ajudar crianças autistas nas aulas

Segundo Isabel Telmo, presidente da Federação Portuguesa de Autismo, "há falta de capacidade para arranjar fundos que permitam às instituições e escolas contratarem técnicos que acompanhem crianças e jovens com autismo”. 

Na realidade, o problema não é a falta de técnicos, mas sim a falta de fundos ao nível das associações e das escolas para contratarem os técnicos necessários. 

Isabel Telmo considera "ter sido dado um grande passo com a criação das unidades de ensino estruturado nas escolas", para o apoio às crianças e jovens com perturbações do espectro do autismo, e que abrange a síndrome de Asperger, no entanto, "faltam ainda meios financeiros tanto no continente como nos Açores para a contratação de técnicos, nomeadamente ao nível da terapia da fala, da psicomotricidade e da musicoterapia". Tendo frisado ainda que, o autismo não tem cura, daí "a importância de terapias adequadas que permitam dar uma maior autonomia" às crianças e jovens com aquelas perturbações.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

“Tudo sobre a Síndrome de Asperger”

Ontem, dia 16 de Dezembro, a Associação Portuguesa de Síndrome de Asperger lançou o livro “Tudo sobre a Síndrome de Asperger” sobre a doença, que afecta cerca de 40 mil crianças e jovens em Portugal.

O livro é baseado na experiência directa, de quase trinta anos, do psicólogo clínico e autor do livro, Tony Attwood, que afirma dar os parabéns às crianças a quem é diagnosticada a síndrome. "Isto não significa ser maluco, mau ou deficiente, mas sim pensar de maneira diferente", explica.

“A Síndrome de Asperger é uma forma de autismo e afecta sobretudo as competências sociais das crianças, que sentem dificuldade em socializar. Suspeita-se que personalidades como Fernando Pessoa, Albert Einstein, Isaac Newton, Mozart, Darwin, Stanley Kubrick ou Andy Warhol sofreram desta doença”.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

De trabalhador a colaborador De utente a cliente De pai a significativo

Era um administrador de um banco que em entrevista na TV várias vezes utilizou a designação de “os meus colaboradores”. Pela insistência, chamou-me a atenção.
Os “colaboradores do banco”, na entrevista do administrador, substituíam “trabalhadores bancários”, designação usada à época.
A palavra “colaborador” em pouco tempo conquistou espaço. Hoje é moda. Já não há trabalhadores, há colaboradores, “colaboradores são os trabalhadores das empresas em linguagem moderna”.
O dicionário da Língua Portuguesa diz que colaborar significa “trabalhar com”, “trabalhar em comum com outrem”, “cooperar”, “participar”, “trabalhar ao lado de”, trabalhar assim num ambiente de confiança, de amizade e de aproximação.
Ao recordar o administrador do banco salta-me o comentário: o administrador ganha muitos milhares por mês e o “colaborador” lá do banco ganha uns mínimos negociados à lupa. O administrador tem prémios de produção de milhões e o “colaborador” lá do banco faz muitas horas extraordinárias por ano e não lhe são pagas. Um obedece e está sempre na iminência de ser despedido e o administrador muda-se com indemnizações e prémios de milhões. São estas as novidades de todos os dias.
Mas é nos bancos que está o dinheiro e também o poder. Dicionários para quê!?...
Mas as tendências modernaças de mudar os nomes às coisas não se ficam por aqui.
Antes havia “utentes”, agora há “clientes”.
Nas instituições de solidariedade social, nos lares de idosos, nos centros para deficientes, os utentes passam, muitos já passaram a “clientes”. Numa linguagem modernaça utilizada sem consultar dicionários, que técnicos, ávidos de modernices, aceitam facilmente.
Por este andar, os alunos das escolas passam a “clientes” da escola. Os “utentes” dos centros de saúde passam a “clientes” dos serviços de saúde. Nos transportes da cidade, os “utentes” passam a “clientes”. Tudo numa linguagem modernaça.
O dicionário diz que “cliente é pessoa que compra algo”, “cliente é a pessoa que adquire produto à venda”, que “paga o que recebe em troca”. Mas as instituições, as escolas, são prestadoras de serviços. O Estado atribui recursos financeiros em função dos serviços prestados. Não há negócio, nada se vende e nada se compra. E os serviços não andam ao sabor da concorrência, não funcionam pelas leis do mercado.
Nesta tendência modernaça de mudar os nomes às coisas resulta que eu era pai há mais de 30 anos. Num instante, deixei de ser pai. Agora, pela nova linguagem, passei a ser um simples “significativo” do meu filho.
Este saneamento de palavras dos dicionários está num “manual de processos-chave - centro de actividades ocupacionais”, disponível no sítio da Segurança Social, na internet.
O “manual” é um livro de 200 páginas. E em 200 páginas, nem uma só vez aparece a palavra “trabalhador”, mas “colaborador” aparece 122 vezes. Nem uma só vez aparece a palavra “utente”, mas “cliente” tem 726 entradas. A palavra “pai” aparece uma única vez como que envergonhada e num contexto pouco significativo, mas “significativo”, como “significativos do cliente – todos os indivíduos que estabelecem relações com o cliente de tipo afectivo, como familiares”, aparece 160 vezes.
Estamos perante tendências modernizadoras, alheias aos dicionários da língua.
E assim temos “colaboradores” que ganham bem, têm poderes para contratar, despedir, avaliar e para submeter e mudar outros “colaboradores”. Há “colaboradores” com grandes poderes sobre outros “colaboradores”, estes precários, dependentes, obedientes, submetidos, silenciosos, medrosos, pagos pelos mínimos, ao sabor dos caprichos de outros “colaboradores”.
A mesma palavra, mas com conteúdos, práticas e estatutos bem distantes.
E pelo andar das tendências modernaças ainda podemos vir a ter “comissões de significativos de clientes de escola” e “comissões de clientes dos centros de saúde”.
E é de ter em conta que este linguajar modernaço está para ter seguidores. Seguidores que não conhecem tradições, nem conhecem os significados das palavras que constam nos dicionários. Seguidores que se acham preparados só porque utilizam palavras modernaças perante pessoas que os ouvem com indiferença, ou desdém.
São modas!
As modas passam depressa e não deixam memória. Enquanto estão, manifestam-se assim!
Manuel Miranda

II Congresso Internacional CADIn "Neurodesenvolvimento: As peças do puzzle"

O II Congresso Internacional do CADIn, "Neurodesenvolvimento: As peças do puzzle" vai realizar-se no Centro de Congressos do Estoril de 24 a 27 de Março de 2011. Os temas deste ano foram escolhidos de acordo com algumas das sugestões dos participantes do I Congresso Internacional do CADIn.  Irão realizar-se 14 conferências principais e mais de 30 comunicações englobadas em painéis temáticos, bem como 15 Workshops com a presença de vários especialistas internacionais e nacionais.  Haverá ainda espaço para a apresentação de posters científicos (candidaturas até 5 de Março de 2011. Consulte as normas em www.cadin.net).
Tivemos o cuidado de escolher temas inovadores e variados onde todos encontrem as respostas que procuram. Esperamos que se junte a nós para tornar este evento memorável, à semelhança do que aconteceu em 2009. Contamos consigo!

A participação neste congresso garante 2 créditos atribuídos pela APTCC - Associação Portuguesa de Terapias Comportamental e Cognitiva.
  
Mais informações em www.cadin.net e inscrições através de congressos@cadin.net.

TEMAS
Identificação Precoce do Autismo: Procedimentos de avaliação e de intervenção.
- Metodologias de intervenção nas Perturbações do espectro do autismo (ABA;  TEACCH; DIR – Floortime).
- Neuroimagem do cérebro em desenvolvimento da criança/adolescente e as Perturbações do Desenvolvimento.
- Capacidades especiais no espectro do autismo.
- A visão de um arquitecto sobre uma cidade imaginada por um autista.
- Disfunções alimentares nas Perturbações do Espectro do Autismo.
- Síndrome de Asperger no Feminino e no Adulto.
- Trissomia 21.
- Défices cognitivos: um plano de vida.
- Novas perspectivas e estratégias de intervenção no sono infantil - Método Estivill.
- Perturbação Bipolar na Infância e na Adolescência.
- Adaptações e estratégias de ensino na sala de aula para alunos com Dificuldades de Aprendizagem Específicas.
- Perturbações Especificas da Linguagem (PEL), Dislexia e Perturbação do Processamento Auditivo.
- Avaliação e Intervenção em Crianças e Adultos com Perturbação Obsessivo Compulsiva.
- A utilidade da CIF em educação.
-Terapia da Fala: Aquisição fonológica – do berçário à entrada no 1º ciclo.
- Prevenção/intervenção precoces em perturbações do comportamento.
- Estratégias de intervenção e de comunicação com crianças traumatizadas.
- Diagnóstico Diferencial entre Perturbação Bipolar e Perturbação de Hiperactividade com Défice de Atenção.
- Perturbação de Hiperactividade e Défice de Atenção: Terapêutica Médica.
- Auto-Estima e auto-conceito em crianças e jovens com Perturbação de Hiperactividade e Défice de Atenção.
- Estudo nacional sobre percepções e atitudes dos professores face à Perturbação de Hiperactividade com Défice de Atenção - implicações na prática pedagógica e intervenção escolar.
- Perturbação de Hiperactividade com Défice de Atenção (PHDA) no sexo feminino: do diagnóstico à intervenção.
- Comorbilidade e Diagnóstico Diferencial: perturbação da ansiedade e Perturbação de Hiperactividade com Défice de Atenção.
- Orientação Escolar e Profissional.
- Perturbações de Oposição e Desafio: um nome, muitas coisas.
- Terapia Familiar e Comunitária.
- Pais, Mães, Ex-Maridos, Ex-Mulheres, Padrastos, Madrastas e outras confusões: A competência das crianças perante a confusão
- Desenvolvimento da sexualidade.
- Intervenção em situação de bullying no contexto escolar.
- Histórias de Vida e estratégias de comunicação/intervenção com crianças vítimas de maus-tratos.
- As perturbações do desenvolvimento e os media.
- Novas dependências: uso excessivo da internet.
- Humor e Educação (importância do humor no bem-estar psicológico).

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Deficiências de “Custos elevadíssimos”

Um estudo apresentado em Coimbra a 19 de Outubro informa que as “famílias com deficientes suportam custos elevadíssimos”, lê-se em notícia do Diário de Coimbra do dia 20.
Sílvia Portugal, coordenadora do estudo e investigadora do Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra afirmou, na apresentação do trabalho, que os agregados familiares “têm custos elevadíssimos” com as pessoas com deficiência e que “os apoios do Estado são insuficientes”, reconhecendo o esforço que tem sido feito neste domínio.
Na investigação, o grupo de trabalho estabeleceu perfis de acordo com as diferentes deficiências e calcularam-se os custos que as famílias têm de suportar para responderem às necessidades das pessoas incapacitadas do agregado familiar.
Os custos mais elevados resultam dos cuidados para dar alguma qualidade de vida aos familiares com deficiências graves, porque esses pedem apoios permanentes de outras pessoas, mesmo nas situações mais elementares da vida diária, como higiene e alimentação. O estudo estima que os custos ultrapassam os 25 mil euros por ano, quando as famílias procuram responder às necessidades e a situação social pode responder.
A secretária de Estado Adjunta e da Reabilitação, Idália Moniz, assistiu à apresentação do estudo e na sua intervenção afirmou que, a partir de agora, “temos um ponto de partida para podermos olhar para os diferentes cenários e os diferentes tipos de deficiência e ver quais são os custos associados a cada tipo”, para poder avaliar as situações com mais rigor.
O Instituto Nacional para a Reabilitação (INR) tem promovido vários estudos, este veio nessa linha. Deu um bom contributo à causa. Tirou do silêncio situações difíceis das famílias que podem e devem ser consciencializadas para terem respostas futuras.
Espera-se que as politicas tenham em consideração os estudos feitos.
Como pai de um filho com deficiência profunda, reconheço que o estudo apresentado é de grande alcance e espero que os resultados apurados contribuam para definir politicas para a deficiência.
Como o estudo ainda não está disponível para uma avaliação mais rigorosa, que procurarei fazer quando o conhecer, o que nos foi dado na apresentação já é de grande utilidade, porque alerta para realidades que nem as famílias sacrificadas têm consciência, porque embaladas pela dedicação a um filho com incapacidade, indiferentes a custos quando está em causa o bem estar desse filho.
O estudo tem as suas limitações, porque, pela apresentação, pareceu-me muito centrado nos custos financeiros e o que as famílias sentem está muito para lá dos custos financeiros. As preocupações quanto ao futuro dos filhos, o não saber o que possa acontecer quando os pais não puderem dar os seus cuidados, estas situações são geradoras de insegurança, de medos, de depressões, de frustrações, de envelhecimentos precoces. Situações que não são quantificáveis em euros.
Noites sem dormir, meses seguidos sem fruir de descansos de fins-de-semana, anos sem férias ou de férias condicionadas pelas necessidades de um filho com necessidades muito especiais, são outros custos e bem mais pesados.
E estas contingências atingem as famílias sem sentimentos de piedade.
Uma portaria, um despacho, uma circular que mexa nas comparticipações das despesas de farmácia obrigam a que, no dia seguinte, um pequeno-almoço de um deficiente com restrições alimentares possa encarecer 50%, ou mais. E ninguém dá por isso, as famílias pagam, em silêncio.
As pessoas com deficiência precisam de apoios permanentes e quando as deficiências impedem a autonomia, a independência pessoal, os apoios são mais exigentes e necessários.
O envelhecimento dos pais torna as situações mais delicadas.
Por estas razões, os equipamentos de residências são cada vez mais necessários para poderem responder adequadamente ao envelhecimento dos familiares.
E não se pode viver nas incertezas das políticas sociais. Durante semanas, as famílias empenhadas no alargamento da rede de residências e de centros de ocupação andaram em sofrimento porque tinham sobre os seus projectos de construção a ameaça de terem de suportar os custos de IVA nas construções programadas. Candidataram-se aos fundos sociais e, sem outras explicações, as obras programadas passavam a encarecer exageradamente, mais 23%, pondo em causa projectos necessários, já aprovados e já com custos de arquitectura, de estudos de especialidades, de licenças e de canseiras.
Palavras de bonança mandaram recolher as aflições, o IVA terá retorno, mas as apreensões ficaram na memória e ninguém garante se mais um PEC que por aí venha não traga consigo impostos empacotados a pagar.
O Estado não se pode alhear dos deveres para com os deficientes. É um dever do Estado.
A Convenção sobre os direitos das pessoas com deficiência, assinada e assumida pelo Estado português, é exigente e clara.
Manuel Miranda *
miranda.manel@gmail.com


* Pai de um filho com 32 anos, deficiente mental profundo, o Tiago, o Tiagolas, que pode ser conhecido em www.youtube.com/tiagoquintasmiranda e ainda em www.tiagolas.no.sapo.pt

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Estratégia Nacional para a Deficiência 2011-2013 (ENDEF) - Publicação em "Diário da República"

Foi hoje, 14.12.10,  publicada em "Diário da República" a Resolução do Conselho de Ministros nº97/2010 que  aprova  a  Estratégia Nacional para a Deficiência 2011-2013 e cria um grupo interdepartamental com competência para acompanhar a execução e a adequação das 133 medidas constantes da Estratégia, respectivos indicadores/objectivos e entidades responsáveis.
Esta Resolução determina que  o acompanhamento técnico permanente de execução da ENDEF pertence ao Instituto Nacional para a Reabilitação, IP.e que compete a cada um dos ministérios envolvidos na execução das acções e medidas que integram a ENDEF, assumir a responsabilidade pelos encargos resultantes das mesmas.
In: INR

Participação Específica 2010

As candidaturas ao Subprograma Participação Específica 2010 decorreram no período de 2 a 28 de Fevereiro, tendo as mesmas sido formalizadas através do preenchimento obrigatório de um formulário de candidatura e de uma ficha de caracterização da Entidade / ONG disponibilizados para o efeito, de acordo com o que determinam as normas deste subprograma.
Com vista à avaliação da execução dos projectos apoiados, as Entidades / ONG beneficiadas deverão enviar aoINR, IP., relativamente a cada projecto, o relatório detalhado de execução a nível técnico e financeiro, de acordo com o modelo a disponibilizar oportunamente no sítio do INR, IP., de preenchimento obrigatório, acompanhado dos produtos resultantes de tal execução, bem como do balancete referente a cada um dos projectos financiados, até 31 de Janeiro de 2011.
Documentos disponíveis para descarregar:
Icone identificativo de ficheiro doc Normas 2010 (375 kB)
Icone identificativo de ficheiro doc Formulário 2010 (370 kB)
In: INR

Incluir Mais

As candidaturas ao Subprograma Incluir Mais 2010 decorreram no período de 2 a 28 de Fevereiro, tendo as mesmas sido formalizadas através do preenchimento obrigatório de um formulário de candidatura e de uma ficha de caracterização da Entidade / ONG disponibilizados para o efeito, de acordo com o que determinam as normas deste subprograma.
Com vista à avaliação da execução dos projectos apoiados, as Entidades / ONG beneficiadas deverão enviar ao INR, IP., relativamente a cada projecto, o relatório detalhado de execução a nível técnico e financeiro, de acordo com o modelo a disponibilizar oportunamente no sítio do INR, IP., de preenchimento obrigatório, acompanhado dos produtos resultantes de tal execução, bem como do balancete referente a cada um dos projectos financiados, até 31 de Janeiro de 2011.
Documentos disponíveis para descarregar:
Icone identificativo de ficheiro doc Normas 2010 (376 kB)
In: INR

Seminário Internacional sobre as Crianças Autistas: Métodos inovadores para integração

A directora regional da Igualdade de Oportunidades, Natércia Gaspar, reuniu-se, no passado dia 24 de Novembro, com o presidente da Associação Regional Parlamento Europeu dos Jovens - Núcleo Açores, Steven Barbosa, no âmbito da apresentação do projecto "seminário internacional sobre as crianças autistas: métodos inovadores para integração na sociedade".

O projecto tem como objectivo proporcionar um quadro de debate sobre métodos utilizados para integrar crianças autistas no seu meio familiar, social, escolar, entre outros.

Com vista à realização do debate, a Associação pretende trazer para aos Açores especialistas de centros da especialidade dos Estados Unidos, nomeadamente do Sherlock Center for Disabilities e do Brendon Hospital do Estado de Rhode Island, que possuem uma vasta experiência em lidar com estas crianças. Ambas as instituições trabalham diariamente com casos de autismo, sendo a Sherlock Center for Disabilities uma instituição de investigação de métodos de abordagem ao tema do autismo e a Brendon Hospital do Estado de Rhode Island responsável pela implementação prática destes métodos.

O debate visa juntar os responsáveis por estas instituições com as autoridades regionais de saúde, educação e pessoas da área da psicologia infantil, partilhando, assim, experiências.

Na ocasião, a Directora Regional da Igualdade de Oportunidades considerou o projecto, apresentado pela Associação Regional Parlamento Europeu dos Jovens, como uma "mais-valia para o reforço dos direitos das crianças e jovens, ao mesmo tempo que vai permitir o aumento de competências por parte dos diversos profissionais e famílias". Natércia Gaspar realçou ainda a importância do papel da Associação na dinamização da cidadania Europeia na Região, na medida em que apelando a uma consciência social relativamente às questões europeias, terá que haver um esforço de sensibilização para o exercício de uma cidadania activa na Região, referindo, como exemplo prático o grupo de reflexão intersectorial que a Associação criou na Região.

"Não me dou por vencido"

Flávio Jorge Soares lembra-se bem dessa tarde do dia 21 de Junho de 2009, na praia de Esmoriz. Antes de sair de casa, viu na net que o mar estaria de feição para praticar bodyboard, mas, afinal, não havia ondas. Quando já estava para ir embora, resolveu dar um último mergulho. Estava com os amigos, numa zona que conhecia bem.
"Foi um mergulho normal, como muitos outros. Não bati com a cabeça em lado nenhum", conta Flávio. O que terá acontecido foi o que vulgarmente se designa por movimento chicote, uma extensão abrupta da coluna que pode causar lesões gravíssimas. No caso de Flávio, fracturou a coluna vertebral, ao nível da cervical (entre as vértebras C5 e C6). Ficou tetraplégico. Tem 19 anos.
Os últimos 17 meses passou-os em quatro hospitais, onde foi submetido a diversas cirugias até estabilizar e iniciar o processo de reabilitação. Começou com exercícios para treinar o equilíbrio do tronco e conseguir manter-se sentado. Fortaleceu os músculos para conseguir levantar-se e fazer as transferências de e a partir da cadeira de rodas.
Flávio recusou a cadeira de rodas eléctrica e explica porquê: "Obriga-me a trabalhar mais. É preciso mais equilíbrio e força. Não quero ficar tão dependente. Com a cadeira eléctrica, ia acomodar-me ao problema."
E acomodar-ser não é verbo que queira conjugar. Quer licenciar-se em Informática e continuar com o árduo processo de reabilitação. "Disseram-me que iria ficar completamente paralisado, que não iria conseguir andar numa cadeira manual. Sinto as pernas, tenho força nos braços. Não trabalho por acreditar que vou andar, mas tenho melhorado muito e, com paciência, vou melhorar ainda mais", acredita Flávio. "Não me dou por vencido."
In: JN online

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Projecto "Connecting Classrooms"

No seguimento do Projecto INDIE, o qual teve inicio em 2007, e que teve como objectivo o desenvolvimento e partilha de boas práticas destinadas a criar orientações educativas a utilizar por políticos, professores e alunos, de modo a originar uma escola mais inclusiva e aberta à diversidade, surge agora o Projecto Connecting Classrooms.
Este Projecto visa a construção de parcerias de longa duração entre grupos de escolas no Reino Unido e escolas em 60 diferentes países.
In: DGIDC

"A Pedagogia Waldorf é um conceito de educação integral"

Raul Guerreiro, formado na Escola Superior Livre de Pedagogia Waldorf em Estugarda, na Alemanha, revela que a Pedagogia Waldorf é uma verdadeira arte de educar e não um método que vem "concorrer" com outras propostas educativas.
Raul Guerreiro dedica-se à divulgação desta pedagogia e da sua estrutura social escolar, através de palestras audiovisuais para pais, educadores e estudantes. Nesta entrevista, o responsável faz questão de expor factos e afastar preconceitos. "As escolas Waldorf não são estabelecimentos de ensino privado, nem iniciativas de prestação de serviços educativos em estilo doméstico ou cooperativista", esclarece. "Como conceito de educação integral com 12 anos de duração, a Pedagogia Waldorf (PW) reconhece sobretudo as dinâmicas inatas dos alunos para um processo de auto-educação e de descoberta gradual do mundo".


E: Na pedagogia Waldorf não há avaliação de desempenho com notação numérica. De que forma são avaliados e apreciados os progressos dos alunos? 
Raul Guerreiro: No final do ano os alunos recebem um "Boletim Waldorf", que é uma colecção de descrições redigidas por todos os professores, expondo de maneira objectiva a metamorfose vivenciada pelas crianças. Não há avaliações "boas ou más" e a ênfase vai para o elogio e para o reconhecimento dos esforços empreendidos pelos alunos. Nos primeiros anos esses documentos são um precioso auxiliar para os pais e mais tarde tornam-se, para os próprios alunos, um espelho promotor da autoconfiança.

E: Nas escolas Waldorf não existe a repetição de anos. Defende-se que os chumbos contrariam a própria condição humana. Não há diferenças entre os bons e os maus alunos?
RG: Precisamente, a existência de diferentes estágios de amadurecimento é considerada na PW como uma coisa salutar, pois expressa a diversidade da condição humana, dando ainda oportunidade a uma solidariedade entre camaradas de classe, o que seria interrompido por qualquer processo selectivo de "chumbos". 

E: Privilegia-se o campo sensorial. Qual a importância da componente cognitiva?
RG: O campo sensorial é mais realçado apenas nos anos do jardim-de-infância e primeiras classes. Evita-se aí estimular um esforço intelectualista precoce, que resultaria danoso para a formação harmónica da personalidade. A PW lida com uma trilogia de forças anímicas presentes em estado latente em cada ser humano desde o nascimento: pensamento-sentimento-vontade. A esfera do pensamento vai sendo reforçada paulatinamente, mas sempre em equilíbrio com as demais forças, e acompanhada por um estímulo da imaginação.

E: Quais as principais diferenças entre esta metodologia e a utilizada no ensino regular?
RG: Este é um tema gigante, mas vou tentar um resumo: (a) cada escola é totalmente independente, suportada por uma associação de fim não-lucrativo. A associação possui uma directoria, mas ela é responsável apenas pelos actos financeiros e jurídicos; (b) a escola propriamente não tem nenhum director, pois são os professores que exercem em conjunto a função directiva, com absoluta autonomia para o domínio pedagógico. Tudo o que não diz respeito à pedagogia está entregue a órgãos escolares onde pais e professores actuam em parceria; (c) os anos de jardim-de-infância são uma delicada fase de alimentação moral-espiritual que irá marcar as personalidades para o resto da vida. Cultiva-se aí uma harmonização das almas infantis, sem se aplicarem medidas correctivas ou tentar preparar as crianças para a fase escolar; (d) todos os alunos aprendem duas línguas estrangeiras desde o primeiro ano. O chamado "professor de classe", que acompanha cada classe durante os primeiros oito anos, tem a seu cargo o currículo Waldorf inicial (Matemática, Português, História, Geografia, Ciências Naturais, etc). Outros professores encarregam-se das disciplinas individuais; (e) não se utilizam computadores e não há livros escolares durante os primeiros anos, pois são os próprios alunos que elaboram tudo em cadernos próprios criados com arte, imaginação e individualidade; (f) no secundário são introduzidos temas mais complexos, mas preserva-se um equilíbrio entre a crescente liberdade de actuação e a criatividade social; (g) muitas escolas preparam para a admissão ao ensino superior. (h) nas escolas Waldorf não se ensina Antroposofia, e não há "cruzamentos" com outras práticas, yogas, meditações ou quaisquer inspirações orientais; (i) o ensino de religião é parte integral do currículo e para tal há sempre professores contratados de acordo com as crenças de cada família. Quando aparecem pais que estão convencidos dos benefícios da PW, mas declaram "não ter religião", eles não são dogmaticamente rejeitados, mas devem aceitar que os seus filhos sejam incluídos nas aulas de Religião Livre do currículo Waldorf, as quais estão baseadas nos princípios morais dos evangelhos cristãos. 

E: Estimular a criatividade, promover a independência através da arte e do contacto com a natureza, ajudar os alunos a expressar competências inatas e únicas. Como é feito este trabalho? 
RG: O tema é de enormes proporções, mas para fornecer uma resposta abreviada posso esboçar alguns aspectos capitais. A essência da PW pode ser expressa como uma arte de facilitar o desabrochar de competências inatas únicas. Para tal, o principal é saber reconhecer e afastar os empecilhos que se apresentam. Cultiva-se uma permanente reverência pedagógica por cada criança, como autêntica representante da humanidade e do princípio superior presente na sua constituição tríplice: material-anímica-espiritual. Os docentes dedicam-se eles próprios a uma permanente auto-educação.

E: Acredita que a criança é capaz de se educar a si mesma, desde que criadas as condições para que isso aconteça?
RG: A PW não se dedica a fornecer conhecimentos, como se as crianças fossem inicialmente inocentes arcas vazias. O essencial é reconhecer nos alunos a presença de todas as dinâmicas inatas necessárias para um processo de auto-educação e gradual descoberta de si próprios e do mundo. É aqui que professores e pais intervêm colaborativamente, oferecendo ambientes propícios para uma expansão biográfica autónoma, segundo o destino interior de cada criança. A totalidade do ensino Waldorf é de carácter imaginativo e artístico-criativo, cultivando-se competências para uma aprendizagem contínua durante toda a vida. 

E: Depois de 12 anos numa escola Waldorf, os alunos estão preparados para enfrentar o ensino superior, onde há avaliações e chumbos? 
RG: O chamado "sucesso académico" ou "sucesso profissional" exige hoje sobretudo qualidades de criatividade, autoconsciência, flexibilidade cognitiva, adaptabilidade a transformações críticas, e capacidade para manter intacta a própria identidade. Tudo isto é cultivado logo desde os primeiros dias no jardim-de-infância Waldorf. Recentes estudos na Europa e na América comprovaram inclusive que os ex-alunos Waldorf alcançam um sucesso fora do comum e um máximo de competências para as ocupações assumidas na vida adulta.

E: Os professores têm uma preparação especializada para ensinar numa escola Waldorf?
RG: Os docentes são formados em escolas superiores ou centros de formação de Pedagogia Waldorf. Não se exige qualquer pré-formação específica, e o treinamento pode durar dois ou três anos em regime integral, havendo outras alternativas para estudos parcelados. Há muitos centros de formação em todo o mundo (o mais próximo está em Madrid) e em Lisboa existe um curso introdutório. 

E: Uma direcção colectiva, um parlamento escolar. É fácil gerir um estabelecimento de ensino sem um patamar hierárquico, em que todos estão ao mesmo nível?
RG: Nas escolas Waldorf não existe qualquer utopia do tipo "todos iguais a todos". Mas a ausência de uma pirâmide hierárquica constitui, precisamente no mundo da educação, um princípio democrático direccionado à paz e ao futuro, não significando menos eficácia no trabalho. A direcção colectiva dos professores Waldorf, junto com os demais órgãos da escola, promove uma total transparência entre professores, pais, familiares e amigos. Isto resulta mais criativo e recompensador para todos e, em última análise, mais efectivo para a educação pretendida.

E: Qual deve ser o papel dos pais no processo educativo? 
RG: Os pais que optam pela PW fazem-no por autêntica convicção e conscientes dos direitos humanos das crianças. Eles são cooperadores imprescindíveis em todo o projecto, assumindo um compromisso com essa pedagogia e o seu modelo comunitário-escolar. Durante muitos encontros regulares entre pais e professores, os acontecimentos a nível familiar ficam transparentes para a escola e vice-versa. Além disso, as numerosas festas e apresentações ao longo do ano reforçam o espírito de comparticipação.

E: Tem falado num "fantasma opressor do moderno mundo escolar". Na sua opinião, o sistema de ensino está demasiado formatado?
RG: O último século, cada vez mais dominado por uma compreensão materialista-cientifista do ser humano, veio condicionar a tal "demasiada formatação". Sem dúvida já há hoje, inclusive na nova pasta da educação, corajosos impulsos de renovação humanística, mas surgiu por último a crença tecnomisticista (aliás já cientificamente desmascarada e rejeitada na América e na Europa) dos meios electrónicos aplicados à educação básica. Essa absurda medida só pode ser classificada como um acto de pobreza espiritual, pois está esvaziada dos impulsos morais necessários para promover os princípios de liberdade, paz e comunhão na nova sociedade emergente. Alunos vitimados desde cedo por essa deformação robótica sofrem de uma crescente insensibilização moral e um dramático desencontro consigo próprios. O pavoroso quadro de brutalidades psíquicas e físicas surgidas nas escolas, mais os fenómenos de bullying, desistências e depressões (inclusive entre professores), está aí visível para todos. A última resposta oficial a tudo isto foi a criação de uma nova lei de crime público, com penas de um a cinco anos de prisão, para violência nas escolas. 

E: Os professores portugueses estão a ser avaliados. Uma medida sensata para promover a excelência da classe docente?
RG: A essência dramática da questão é que semelhantes avaliações são insufladas precisamente por aquele doentio modelo dos chumbos. Pretende-se passar por um crivo os trabalhadores imediatos do ensino, enquanto que a respectiva estrutura estatal arcaica e autoritária permanece intocada. A classe docente portuguesa necessitava sobretudo da oportunidade para uma profunda reflexão sobre reformas pedagógicas (algo como um novo pacífico 25 de Abril para as mentalidades).

E: No sistema de ensino português, a avaliação de desempenho, a precariedade dos professores contratados, a falta de psicólogos nas escolas, algumas regras no Estatuto do Aluno têm provocado alguma contestação. Em seu entender, as políticas educativas em Portugal caminham num bom sentido?
RG: A educação das novas gerações (algo que equivale ao próprio futuro da humanidade) é por natureza própria incompatível com aspirações políticas, astúcias personalistas, programas partidários ou eleições. Como prolongamento de um conservantismo agora semiafogado na experiência da tecnificação em massa, as nossas políticas educativas estão cada vez mais confrontadas com um incompreensível novo mundo (e isto em simultâneo com o actual abismo da bancarrota financeira do país). Toda uma arquitectura secular feita de orgulhos nacionalistas e raciais, convicções de classe, avanços científicos e jogatinas económicas internacionais está agora a ser sacudida pela base, como que lavada por uma benemérita onda tsunâmica global. A nova ordem social emergente grita muito mais por uma renovação humanista da educação do que por planos de defesa contra armas nucleares ou ataques terroristas. 

E: Portugal tem poucas escolas Waldorf. Desinteresse, falta de investimento, pouca abertura para uma metodologia diferente, resistência a um programa diferente do ensino regular? O que se passa?
RG: A Pedagogia Waldorf, ou Arte de Educar de Rudolf Steiner, é uma renovação conceptual alargada por uma verdadeira antropologia científico-espiritual do Homem e para o Homem. Ela foi reconhecida pela UNESCO e está hoje presente no mundo como uma realidade colaborante no esforço de humanização e aprofundamento espiritual da educação. Portugal é a última nação da Europa Ocidental sem uma presença socio-cultural da Pedagogia Waldorf. Para além da dificuldade típica de impulsos pioneiros, existe a referida política oficial conservativa e asfixiante, que bloqueia uma reforma legislativa que permita a existência de escolas livres, e sobretudo emancipadas da mórbida prática dos exames de "equivalência" impostos a crianças cujos pais optaram legalmente por outra linha educacional. 

No Algarve, no município da Vila do Bispo, um corajoso grupo de mães, pais e professores mantém hoje a "Escola Livre do Algarve - A Oliveira" como primeira escola primária Waldorf regular em Portugal.
Sara R. Oliveira