sexta-feira, 7 de novembro de 2008

O grande embuste

Em matéria de ensino, chegámos àquele ponto em que até as 'boas notícias' nos entristecem. Foi o caso da confirmação oficial dessa suspeita que vinha dos exames de Junho e que esta semana ficou consagrada em todos os títulos de jornal: o extraordinário desempenho dos alunos e das escolas no ano lectivo 2007-2008, decerto o mais glorioso das últimas décadas.
Professores e especialistas que, no Verão, leram os enunciados dos exames já nos tinham avisado de que o insucesso ia acabar, nomeadamente em Português e Matemática. Não se imaginava era a dimensão dos progressos nessas duas disciplinas: quase todas as escolas com exames do 9º ano (97 por cento) apresentaram resultados positivos, quando, há um ano, só 66 por cento o tinham conseguido.
O milagre das notas é fácil de entender e os professores explicaram-no em devido tempo: não foram os alunos que passaram a ser geniais de um ano para o outro, foram os pontos de exame que ficaram mais fáceis e ajustados à necessidade política de se apresentarem resultados no combate ao insucesso. Por isso esta boa notícia é uma notícia triste. Ela não significa que os alunos estão mais bem preparados e que a realidade mudou; significa apenas que foi mascarada.
Ora, para evitar este mal disfarçado embuste - ou melhor, para o embuste ser completo -, nada melhor do que adoptar com urgência e sem discussão a mais recente proposta do Conselho Nacional de Educação: a de que se acabe de vez com as reprovações na escolaridade obrigatória. Assim fica tudo mais claro e acaba-se com a discriminação dos reprovados. No fim do 9º ano, os alunos recebem todos o mesmo diploma de 'frequência' e pronto. Fica a escola mais 'democrática', pois deixa de haver diferenças entre quem estudou e quem andou por lá.
Quanto aos que quiserem mesmo aprender, preparar-se para a vida e distinguir-se dos que passeiam pela escolaridade obrigatória - o que só acontece em larga escala na escola pública, porque nas privadas sai demasiado caro -, os "rankings" indicam-lhes o caminho: colégio. Caro? Pois é. Mas quem não tem dinheiro não tem luxos, que é no que está a tornar-se o ensino em Portugal: um luxo a que só os ricos podem aceder.
Crónica de Fernando Madrinha

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